sábado, 31 de março de 2012

Amigo



Certa manhã, o guerreiro mongol Gengis Khan e sua corte saíram para caçar. Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava seu falcão favorito no braço – que era melhor e mais preciso que qualquer flecha, porque podia subir aos céus e ver tudo aquilo que o ser humano não consegue ver.
Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada. Decepcionado, Gengis Khan voltou para seu acampamento – mas, para não descarregar sua frustração em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.
Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado, e Khan estava morto de sede. Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos, não conseguia encontrar nada para beber até que – milagre! – viu um fio de água descendo de um rochedo à sua frente.
Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo e, quando estava prestes a levá-lo aos lábios, o falcão levantou vôo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe.
Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez estivesse também com sede. Apanhou o cálice, limpou a poeira, e tornou a enche-lo. Com o copo pela metade, o falcão de novo atacou-o, derramando o líquido.
Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circunstância, já que alguém podia estar assistindo à cena de longe e, mais, contar aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.
Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo – mantendo um olho na fonte e outro no falcão. Assim que viu ter água suficiente e estava pronto para beber, o falcão de novo levantou vôo, e veio em sua direção, Khan, em um golpe certeiro, atravessou o seu peito.
Mas o fio de água havia secado. Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça d’água e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região. Se tivesse bebido a água, já não estaria no mundo dos vivos.
Khan voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços. Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave, e gravou em uma das suas asas:
“Mesmo quando um amigo faz algo de que você não gosta, ele continua sendo seu amigo”.
Na outra asa, mandou escrever:
Qualquer ação motivada pela fúria, é uma ação condenada ao fracasso”.

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